terça-feira, 3 de junho de 2014

No cinema (1 a 4)

Na época do Oscar, comecei a fazer uns comentários de filmes no Facebook. De tempos em tempos, faço uma lista de uns filmes bons que vi no cinema. Mas no Facebook as coisas de perdem. Resolvi trazer também pra cá. Nesta primeira vez, a lista tá editada, arrumadinha em ordem alfabética, com link pra comprar o DVD quando tiver... Ainda tem uns cacos deixadas pelo passar do tempo, mas enfim, vai ficar assim.

Tenho achado que o Facebook é legal pra postar esses textinhos porque rola uma discussão que não tenho mais esperança que rolem nos comentários do blog. Então, se alguém quiser acompanhar e comentar lá, tá liberado. Não precisa ser amigo, é só seguir.


***




12 anos de escravidão - Eu gosto demais do Steve McQueen desde que ele fazia ~videoarte~.

A grande beleza - Jep Gambardella é o melhor guia de Roma, e ficamos por isso por enquanto. Escrevi sobre o filme mais demoradamente aqui.

Alemão - Acho que 75% do filme é filmado num caixote. Não deve ter custado caro, mas nem dá pra notar. É aquele tipo com potencial de blockbuster que é decente o suficiente pra você torcer pra que dê certo. E deu sorte / azar de a situação estar difícil de novo no Alemão.

Amante à domicílio - Woody Allen é um gigolô, John Turturro faz michê, meio que não tem como dar errado. E não dá.

Azul é a cor mais quente - Acho bem bonito, e tem uma fofura de Sessão da Tarde.


Blue Jasmine - Cito a Mari Messias, que nem lembra que falou isso: "Eu e o Woody All velho nos damos muito bem".

Caçadores de Obras-Primas - Divertido demais, especialmente se você se importa com o destino de obras-primas durante a guerra.


Capitão América 2 - O Soldado Invernal - Tentaram me dizer que era tipo um filme de espionagem dos anos 70. Fui achando que veria o Tinker Tailor Soldier Spy da Marvel. Não é nada disso. Mas é um filminho de super-heróis divertido. Tem lá suas bobagens. Tá longe até de ser o melhor do gênero (Batman - O Retorno segue imbatível), mas é dos melhores dessa leva da Marvel, e merece uma mençãozinha.

Godzilla - Muita gente adorou. Mais que isso: pessoas com quem eu tenho afinidade pra gosto pra filme adoraram. Eu achei que tem seu charme. É bacana a coisa toda estar ligada a esse zeitgeist Fukushima. Tem a Juliette Binoche sendo incrível. Por isso que eu ponho aqui. Mas aquele lance de o rapaz coincidentemente estar sempre perto dos monstros é forçado demais. Estraga tudo. Dava pra resolver de um milhão de jeitos, mas ficou esse aí, meio chinfrim.

Gloria - Sobre essa mulher de uns 50 anos que vive a vida, não cai no papel de velha, e que é uma realidade cada vez mais comum.





Heli - A violência no México rendeu um filme que, no ano passado, deu a Amat Escalante o prêmio de melhor diretor em Cannes. Mostra a confusão entre polícia e narcotráfico, no sentido de que com um Estado fraco essas fronteiras se confundem. É uma história pesada, claro. Que se passa no México, mas deixa uma impressão de que pode estar acontecendo agora mesmo aqui em São Paulo, no Rio ou em qualquer periferia de grande cidade.

Hoje eu quero voltar sozinho - Na contramão de tudo, correndo o risco de ser achincalhado, eu pego no pé de alguns filmes rotulados de "gays" que acabam sendo comédias românticas ou melodramas ruins, mas que, por terem personagens gays, ganham automaticamente ganham um verniz de revolucionárias. Tá cheio de filme assim. Mas Hoje eu quero voltar sozinho, ainda bem, não tem nada a ver com esses filmes aí. Mesmo que seja uma comédia romântica adolescente, ou talvez porque seja uma bela comédia romântica adolescente. Num mundo melhor que o nosso, faria da Sessão da Tarde uma festa. Todo o auê em torno do filme está justificado.




Hotel Mekong - Demorou, mas chegou. O novo filme do Apichatpong Weerasethakul tinha passado no Festival do Rio de 2012 e eu nem tinha mais esperanças que entrasse em cartaz por aqui. Mas entrou. E é maravilhoso. Talvez seja o filme mais incrível em cartaz.

Os personagens estão nesse hotel na beira do rio Mekong, que está passando por uma enchente grande, devastadora. O governo está tentando remediar, mas é meio patético (todo governo é meio patético). Tem o fantasma de Pob, que come tripas. E tem a música de Chai Bathana, toda no violão, uma trilha linda que percorre quase todo o filme, acho que tem só uma interrupçãozinha.

O filme segue o tempo da enchente, e isso me emocionou bastante: a enchente é real, e o tempo de duração das filmagens é o tempo em que o rio esteve cheio. Só consigo imaginar o que é restringir o tempo de filmagens ao tempo de uma inundação.

(Como única ressalva, fiquei meio traumatizado por ter recomendado o Apichatpong anterior, Tio Boonmee. Muita gente adorou, mas alguns amigos acharam terrivelmente chato e nunca vão me perdoar pela indicação.)


Inside Llewyn Davis - Esse é um dos filmes que justifica esta lista: não sei se as pessoas estão se dando conta que estão perdendo um filme desses.





Instinto Materno - Resolvi escrever hoje porque esse é um filme que está quase saindo de cartaz, e merece muito ser visto. Trata-se do romeno que ganhou o Urso de Ouro no Festival de Berlim no ano passado. Passou batido. Desde a semana passada, vem sobrevivendo em sessões esparsas e esquisitíssimas em alguns dias da semana em alguns Cinemarks menos cotados. Ao menos em São Paulo. É a história de um rapaz rico que atropela e mata um menino pobre, e especialmente da mãe do rapaz, uma dondoca que vai fazer de tudo para proteger seu filho, mesmo que isso signifique comprar a família do menino morto. Um petardo. Simples e profundamente original.

Jackie - Não sei se ainda tá passando nos cinemas ainda. De São Paulo, saiu. Mas é um filminho holandês divertido, leve e surpreendente sobre duas irmãs holandesas que vão em busca da americana que serviu de barriga de aluguel pros pais gays. Chegam lá e encontram uma hippie loucona que mora num trailer e está toda zuada. E partem com ela por uma viagem pelo deserto.

Marina - É uma cinebiografia do cantor Rocco Granta, que fez sucesso com músicas italianas na Bélgica. Eu tenho pé atrás com biografias, mas fui ver e achei bem decente. Escrevi sobre ele aqui.

Nebraska - Aquele lance coxinha no Hawaii que foi Os descendentes me tirou toda a vontade de ver outro filme do Payne. Mas ainda bem que fui.

Ninfomaníaca v. 1 e v. 2 - O 2 é mais extremo que o 1. E acho que o conjunto pode mudar a percepção que parte do público tem a respeito de Von Trier. Mas eu queria mesmo é que o sucesso dos dois justificasse a exibição da versão hardcore de cinco horas.


Noé - O filme só é fiel à Bíblia na visão de Aronofsky. Por exemplo: a Bíblia diz que existiam gigantes na Terra; Aronofsky nos dá anjos transformers deformados de pedra. A Bíblia diz que Deus falou com Noé; o filme mostra Noé como um fanático religioso que tem alucinações psicotrópicas e delírios darwinistas. Muita gente não gosta, mas Aronofsky é um maneirista, e eu curti demais. Inclusive peço que me ajudem: vocês também ficaram com a impressão de que o Aronofsky usou as distorções da conversão em 3D pra distorcer o próprio Noé na medida em que ele vai ficando mais loucão?



O Congresso Futurista - Uns anos atrás, Ari Folman fez algum sucesso com a animação Valsa com Bashir. Pois bem: O Congresso Futurista é muito mais legal. É sobre o fim do cinema, sobre envelhecimento, tecnologia. Uma parte do filme é com atores. Outra, com animação. Acho que é um daqueles filmes que a gente fica falando deles pra sempre, mesmo que não se dê muita bola agora.

O Grande Mestre - Esse eu vi na Mostra, mas acabou estreando só agora. O filme conta a história de Yip Man, popularmente conhecido como ~ o mestre de Bruce Lee ~. Não é o primeiro filme sobre ele. Tem até uma série chamada Yip Man que é divertida. Mas esse novo é do Wong Kar-Wai, que pesa um pouco a mão (ou era eu que já tava com o peso da Mostra?), mas acaba fazendo um belo filme. Em tempo: mal entrou em cartaz e já tá saindo. Se liguem.

O Lobo de Wall Street - Scorsese transloucado. E isso é bom. (PS: tá no Netflix.)



Os filhos do padre - Uma comédia croata impagável. Decidido que contracepção é pecado, um padre bola um plano de furar todas as camisinhas da cidade e devolver a fertilização às mãos de Deus.

Pelo malo - De partir o coração: na Venezuela, um menino pobre de marré deci tem, digamos, questões de gênero: uma queda pelo rapaz que trabalha na vendinha, vontade de alisar cabelo... A mãe acha um horror, quer que ele seja machinho, faz horrores pra não ter um filho gay. A avó delira: ajuda a alisar o cabelo, estimula a ser artista. Só desgraça.

Philomena - Bem bom! Como que a Judi Dench pode melhorar cada vez mais?

Praia do Futuro - Eu cresci num país que ~só fazia filme ruim~ (era o que eu ouvia nos tempos da Embrafilme, mesmo que hoje eu saiba que não era bem assim). Aí teve o Collor, que andam tentando redimir por aí como presidente, mas que simplesmente matou o cinema brasileiro. Depois disso tudo, ter um cara como o Karim Aïnuoz fazendo filme aqui é um acontecimento, é uma evolução brutal em pouquíssimos anos.

Então, na boa: que preguiça da polêmica toda. Que discussão rasa que tá rolando. O filme nem mesmo tem como foco esse relacionamento gay do Wagner Moura com o alemão. É sobre outras coisas, sobre família, sobre distância e, nesse sentido, tem muito mais a ver com outras coisas que o próprio Karim Aïnouz fez, inclusive o Viajo porque preciso, volto porque te amo (que é o título mais lindo do cinema brasileiro). É um filme gigante de um diretor gigante.

Rio 2 - Não tenho uma relação muito boa com animações feitas por computador. Mas achei Rio 2 incrivelmente colorido, principalmente nas cenas musicais. Por mim, podiam deixar de lado a historinha das araras e focar só nos clipes alucinantes.

Vidas ao Vento - O Harold Bloom tem um livro em que compila e analisa os últimos poemas de poetas, e fala sobre morte e uma certa sensibilidade para a morte que os poetas acabam desenvolvendo. Vidas ao Vento foi anunciado como o último de Hayao Miyazaki, e, a partir da leitura de Bloom, me parece que ele sabe que vai morrer.

***

Depois desses filmes, tenho sido perseguido por filmes meia boca. E esses eu ignoro. Essas listas são mais pra guiar quem quer ver filme bom do que pra resenhar.

Nenhum comentário: