sábado, 27 de janeiro de 2018

Nos últimos dias

Filmes

Me chame pelo seu nome
Ex Libris - New York Public Library, de Frederick Wiseman
The Post
O artista do desastre

Livros

Winter, de Karl Ove Knausgaard
Poesia de Anna Akhmátova

Barroco

(Ouro Preto, 15 de novembro de 2016)

Vim a Minas ver o barroco. Ao menos, uma parte dele. O barroco é imenso.

Tenho visto o barroco no Brasil todo.

Ontem, o guia que me levou a Congonhas perguntou o que eu gostaria de ouvir no carro. Eu não sou muito de música. Tanto faz. Mas gosto de ouvir o que as pessoas escutam.

- Pode ser hip hop?

- Pode. Eu não falei que vim aqui pra ver barroco? Vamos ouvir!

Ele estranhou. Expliquei que barroco, como hip hop, é feito por gente periférica, gente preta e mestiça, gente que sofre pra viver e que sofre preconceito.

Na véspera, tinha visto quatro leões de essa na Igreja de São Francisco - São Francisco, imagino eu, gostaria do barroco e de hip hop. Os guias dizem que os leões têm cara de gorila, tecem desculpas de que não parecem leões dizendo que Aleijadinho nunca viu um leão na vida. Os leões são claramente quatro homens negros furiosos, ensandecidos, e com pau duro. Os guias nunca mencionam o pau duro. Nem que são negros. Tancredo Neves foi velado em cima desses quatro leões de essa de pau duro, negros furiosos, ensandecidos.

Por aqui, inventa-se muita coisa sobre Aleijadinho, de quem tão pouco se sabe. Se ainda desse tempo, iam dizer que Aleijadinho era branco, bonito e santo. Mas era mestiço, filho de escrava alforriado no batismo, doente, mulherengo, pelo pouco que se sabe.

Toda a história do Brasil está no barroco.

Eu só chamo esse barroco de barroco por hábito, porque é mais fácil. Mas isso que tem em Minas, em Pernambuco, no Rio, em boa parte do Brasil, isso é outra coisa. Isso é hip hop, é o funk, é o brega.
Mestre Ataíde faz um teto de igreja em que todos os anjos e santos são negros, e isso tem mais a ver com Mano Brown que com Bernini.


sexta-feira, 26 de janeiro de 2018

Corujas

“The owl is nothing other than this: a soundless and highly effective bird of prey. If the true task of poetry is revelation, this is what it should reveal, that reality is what it is. That the forest, with its dense spruces and its snow-covered floor, is real. That the falling dusk is real. That the owl taking off from the branch and flying across the field is real. That its soundless wingbeats are real, that the invisible and to us inaudible sound waves that reach its ears are real. That the abrupt change in its flight is real, that the swoop down towards the ground with its claws first is real, that the mouse that the claws dig into is real. That the red of the blood against the grey-white of the mouse’s pelt is real as the wings beat and the owl rises through the darkness and in between the tree trunks, which a moment later it vanishes among.”
Karl Ove Knausgaard, em Winter.

sexta-feira, 19 de janeiro de 2018

Verde e Amarelo

"Até mesmo a bandeira nacional, a despeito das interpretações surgidas a posteriori (que explicavam o verde como uma referência às matas do país, e o amarelo como uma alusão às riquezas minerais), seguia ostentando seus vínculos com a tradição imperial: o verde, cor heráldica da Casa Real Portuguesa de Bragança; o amarelo, cor da Casa Imperial Austríaca de Habsburgo. Além disso, o desenho republicano reaproveitou o losango da bandeira imperial, apenas retirando o brasão monárquico com as armas imperiais aplicadas e introduzindo o lema positivista de 'Ordem e Progresso'."

Lilia Moritz Schwarcz e Heloisa Starling em Brasil: uma biografia

quinta-feira, 18 de janeiro de 2018

Lucrecia Martel

Vivemos na ditadura do entretenimento?, pergunta o El País.

“Sim. E as séries de televisão aprofundaram nisso. Estou sempre falando das séries com espanto porque as pessoas não se dão conta de que são um retrocesso. A televisão melhorou, claro. Basta comparar Dallas com Breaking Bad. Mas em termos narrativos de imagem e som, o que se tinha conseguido já com documentários e certos filmes era mais rico do que o que estão fazendo nas séries, que são mais uma vez o argumento puro, uma estrutura mecânica e do século XIX, por mais que seja bem feita. As séries nos devolveram o romance do século XIX. É fruto do momento conservador que estamos vivendo. Se arrisca menos”, responde a diretora Lucrecia Martel.

quarta-feira, 17 de janeiro de 2018

Philip Roth

"I am, as you indicate, no stranger as a novelist to the erotic furies. Men enveloped by sexual temptation is one of the aspects of men’s lives that I’ve written about in some of my books. Men responsive to the insistent call of sexual pleasure, beset by shameful desires and the undauntedness of obsessive lusts, beguiled even by the lure of the taboo — over the decades, I have imagined a small coterie of unsettled men possessed by just such inflammatory forces they must negotiate and contend with. I’ve tried to be uncompromising in depicting these men each as he is, each as he behaves, aroused, stimulated, hungry in the grip of carnal fervor and facing the array of psychological and ethical quandaries the exigencies of desire present. I haven’t shunned the hard facts in these fictions of why and how and when tumescent men do what they do, even when these have not been in harmony with the portrayal that a masculine public-relations campaign — if there were such a thing — might prefer. I’ve stepped not just inside the male head but into the reality of those urges whose obstinate pressure by its persistence can menace one’s rationality, urges sometimes so intense they may even be experienced as a form of lunacy. Consequently, none of the more extreme conduct I have been reading about in the newspapers lately has astonished me."


Últimos dias

Livros

Brasil: uma biografia, de Lilia Moritz Schwarcz e Heloísa Starling
Poemas negros, de Jorge de Lima
Fábulas completas, de Esopo

Filmes

120 batimentos por minuto, nos cinemas
Aquele querido mês de agosto, no Mubi
Antipornô, no Mubi

Exposições

Tunga: o corpo em obras, no Masp
David Claerbout, na Pinacoteca
Rodrigo Andrade e Ensaio de Tração, Estação Pinacoteca
Quilômetros, de Gustavo Speridião, na Sé

terça-feira, 16 de janeiro de 2018

Recomeço

Queria recomeçar do zero neste post. Dizer que tudo antes ficou pra trás. Pedir que esquecessem o que escrevi.

Fiz uma faxina no blog, apaguei posts que não faziam mais sentido - porque a internet muda, porque eu mudei.

Revi muita coisa nos últimos anos. Praticamente não leio mais quadrinhos, que era um tema recorrente nos posts anteriores.

Este post seria um marco. Daqui pra trás, não me responsabilizo, eu diria. Não sou eu. Leiam e concordem por sua própria conta e risco.

Mas: o post anterior é justamente uma citação do LeClézio que diz tudo isso com muito mais potência. Já tentei voltar a escrever aqui antes. Ficaram alguns registros. Se eu prestar muita atenção, quem sabe consiga ouvir, trazidos pelo vento, a música, os risos, os gritos das crianças?